“Enquanto arrepiava o lado direito de sua cabeça, ela ouvia uma canção que dizia: “Deixe chover pras flores crescerem”. Só havia uma certeza em tudo isso, aquele não seria um dia como outro qualquer.
O relógio da casa de Sofia já apontava quase uma da tarde. Ela provavelmente chegaria atrasada no trabalho, mas precisava escutar a música até o final. Enquanto acompanhava cada verso da canção cuidou dos últimos preparativos corriqueiros antes de sair; amarrou o cabelo, lavou o rosto e passou na cozinha para pegar alguma fruta que pudesse enganar o estômago mais tarde. A música soou o último acorde prolongado e Sofia já tratava de desligar o som antes que a próxima música começasse e a prendesse novamente dentro de casa. Pegou a bolsa e as chaves, deu uma última olhada no relógio – “É hoje que vão me demitir…” – e correu pela porta de entrada.
Dizem que é quando se está com pressa que os inesperados começam a acontecer (não é?), e não foi diferente com Sofia.
A garota caminhava rapidamente como de costume, não reparou que os vizinhos haviam aparado a grama, não olhou no céu os pássaros que voavam em câmera lenta, mas reparou em uma placa de madeira com alguns dizeres “Não me olhe, tenho vergonha!”.
“Deus, que diabos! Uma placa tímida!” Esse foi o primeiro pensamento que vagou pela mente da jovem, o qual foi logo esquecido com a visão do que estava logo abaixo, um pequeno coelho de pelúcia!
Os pensamentos que se seguiram foram tão óbvios como o prévio – Como o coelho escreveu a placa? Alguém escreveu a placa para o coelho? Pobre coelho! É tímido! – Cada um desses devaneios perdeu o sentido quando a pequena pelúcia no chão se movimentou fixando seu olhar de plástico nos olhos vivos de Sofia.
Uma sensação de calafrio percorreu o corpo da garota, seguido por um êxtase inigualável. O mundo ao seu redor começou a crescer, ou melhor, ela começou a diminuir! Quando se deu conta percebeu que no lugar onde estava parada olhando para a pobre pelúcia já não havia nada, e se deu conta de que havia tomado a forma de um pequeno coelho. A garota agora era uma simples pelúcia em forma de coelho, um coelho tímido.
Nada mais importava para Sofia, ser um coelho de pelúcia não era o sonho de sua vida mas não era de todo ruim, vida essa que passou a aceitar em todos os dias que se passaram.
Você, caro leitor, deve estar se perguntando agora o óbvio, e a resposta para essa pergunta é simples! Sim, a garota foi demitida!
Frase inicial por Dalila Realino